A raio x da violência juizforana

 O alto índice de homicídios em Juiz de Fora vem chamando a atenção dos moradores para a questão da insegurança e banalização da violência. De acordo uma matéria publicada pelo jornal Tribuna de Minas, somente entre janeiro e novembro deste ano, 121 pessoas foram assassinadas na cidade. A soma ainda não inclui o crime praticado contra um homem de 28 anos no bairro São Benedito, executado com 4 tiros no último final de semana.

Já nos registros da Polícia Militar, entre janeiro e outubro de 2013, o município teve 87 mortes violentas. O órgão não leva em consideração os óbitos ocorridos fora do local do crime, como, por exemplo, durante a prestação de socorro à vítima  no trajeto dentro da ambulância, ou no próprio hospital.

Responsável por julgamentos de crimes contra a vida em Juiz de Fora, o juiz presidente do Tribunal do Júri, José Armando Pinheiro da Silveira, aponta duas razões para a escalada da violência: o crescimento da cidade, e a pobreza. "Nós temos, efetivamente, uma explosão demográfica que justifica o aumento da criminalidade. O segundo motivo, infelizmente, é a pobreza. Quanto maior a pobreza, quanto maior o sacrifício para sobreviver, maiores as condições de desarmonia social."

O percentual da violência 

Segundo José Armando, é possível traçar três perfis de homicídios para o município. O juiz destaca que 40% dos crimes estão relacionados ao tráfico de drogas, outros 40% com brigas de gangues, e 20% pode ser atribuído aos "conflitos naturais de convivência", como discussões em bares ou disputa por relacionamento.

"Nós estamos vivendo a praga das gangues de bairro. Isso é uma praga, isso é um negócio que não tem lógica nenhuma. O indivíduo mata o outro porque um mora no bairro x, e outro no bairro y. Um entra no bairro do outro e é morto."


                                                Veja a entrevista com o juiz José Armando


Sonhos destruídos
Dona Marluce aguarda audiência no Tribunal do Júri
(Foto: Wilian César )

O adolescente Flávio Luís Lopes Garcia (16) entrou para as estatísticas da violência em Juiz de Fora. Ele foi assassinado um dia após o Natal de 2012, quando voltava com os amigos de um show.
Apesar de não ter nenhum envolvimento com drogas ou brigas de gangues, o estudante foi abordado por dois homens em uma moto e baleado cinco vezes, enquanto esperava ônibus no bairro Santa Luzia.

 Antes dos disparos, os amigos chegaram a se identificar para os criminosos como moradores do bairro Eldorado, alertando que não eram envolvidos em rixas.
Para a mãe de Flávio, a agente de turismo Marluce Rocha, é impossível entender o que aconteceu. Era a primeira vez que o rapaz ia a uma festa sem a sua companhia. "Ele sempre foi um menino muito tranquilo. Nunca se envolveu com coisa errada, droga, gangue, com nada disso. Ele começou a sair porque eu levei ele para sair, e só saia comigo."

Marluce lembra que o filho tinha o sonho de jogar futebol, e estava feliz por ter sido aprovado para a equipe juvenil do Tupi. Com a morte do garoto, ela passou a sofrer de síndrome do pânico e depressão, vive à base de remédios e teve que se afastar do trabalho para se tratar.

A primeira audiência com os acusados pelo crime foi realizada na última terça-feira (19).

Ouça a entrevista com a mãe de Flávio

Por trás das câmeras

Vigilância privada é alternativa  para comerciantes


O número de assaltos e furtos a estabelecimentos da região central de Juiz de Fora despertou a atenção dos comerciantes para a questão da segurança. Como forma de se defender da criminalidade, muitos lojistas estão investindo na compra de equipamentos de vigilância eletrônica, ou contratando empresas especializadas nesse serviço.

Foi o que fez o proprietário de uma drogaria localizada no Largo do Riachuelo. De acordo com o funcionário David Luiz, depois de uma tentativa de arrombamento, além da adoção de medidas protetivas mais simples, o local também passou a funcionar sob um sistema de monitoramento por câmeras que filmam em alta definição e até mesmo no escuro. "É um investimento alto, mas que vale a pena", diz.

Ouça a entrevista com David Luiz


De acordo com o diretor executivo da empresa de segurança Visiplan, Marcelo Franco, o aumento na procura pelos serviços de vigilância e monitoramento vem crescendo na cidade. Ele acredita que a demanda se deve à necessidade de auto proteção dos comerciantes.

Marcelo explica que os investimentos na contratação do serviço variam conforme o projeto de cada cliente. Os preços começam na casa dos R$ 800,00 e podem ultrapassar a marca dos R$ 15 mil para serviços como sensores infravermelho,cercas eletrificadas, e do próprio monitoramento 24 horas. "A gente conta com pessoas, com viaturas, motos, carros de deslocamento, uma estrutura que realmente possa vir a atender".



Veja a entrevista com Marcelo Franco


Para o superintendente do Sindicato do Comércio de Juiz de Fora (Sindicomércio), Sérgio Costa, um estabelecimento seguro acaba atraindo mais clientes, "Quando eu entro numa loja e sinto que ali há uma segurança, eu fico tranquilo. Eu vou fazer as minhas compras absolutamente despreocupado".

Sérgio Costa, do Sindcomércio
(Foto: Wilian César )

Sérgio, porém, faz uma crítica ao poder público. Ele questiona o número insuficiente de policiais nas ruas, e reclama que a contratação de segurança privada gera gastos aos empresários. "Não somos nós que vamos ter que resolver os problemas do Estado. O Estado tem que ser autossuficiente para resolver as suas dificuldades".

O superintendente não confirma se o valor dos investimentos é repassado para o consumidor, mas também não descarta essa possibilidade. "Na verdade, a gente até entende que não deveria acontecer isso, mas não estamos lá para acompanhar como é que o empresário faz a recuperação deste investimento. É possível sim que alguns embutam isto dentro dos valores dos produtos comercializados", explica. 
Ouça a entrevista com Sérgio Costa
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